Você é aquilo que cria internamente – o EU SOU.
Você não é o que cria externamente – o EU TENHO
— <<Artigo escrito por Vania Faria Sutherberry >> —
Eu estava assistindo ao telejornal um dia desses e ouvi os depoimentos de algumas pessoas que perderam tudo que tinham e tiveram que recomeçar suas vidas do ponto de vista material do zero. Muitas vezes pessoas simples, que tinham um único patrimônio que eram suas casas. Haviam colocado trabalho, dinheiro, energia na construção daqueles espaços para morar e de repente “perderam tudo”, do ponto de vista externo.
Ao mesmo tempo em que assistia o telejornal, lembrei-me de um fato que acontecera nestes últimos tempos, com uma pessoa muito próxima a mim, que também estava com a sensação de que “perdera tudo”. Porém, esta perda se referia à perda de um grande amor. Quantos sonhos, quantas projeções de futuro, quantas lembranças… e um dia tudo se foi… Quanta dor!!! Realmente não é fácil ter que vivenciar esta experiência.
E alguns questionamentos me vieram à cabeça como – O que sobrou para essas pessoas além do desespero e dor? O que restou para essas pessoas além de ter que encarar a realidade?
E afinal, o que significa a vida?
Bem, estes são exemplos extremos de perdas e mudanças de rumo de vida que geram um tremendo choque nas pessoas quando acontecem. Esses e tantos outros fatos que interrompem uma trajetória sonhada, desenhada, planejada, construída… acontecem a todo momento em algum lugar longe ou perto de nós. Eles estão aí sendo experienciados por muitas pessoas.
Outros choques podem acontecer gradativamente, quando estamos envolvidos em uma situação cotidiana ilusória, do ponto de vista de identidade, e não observamos o que está acontecendo externamente em nossas vidas.
Um exemplo é o de um executivo que trabalhou por 20 anos em uma empresa, dedicou-se ao trabalho, e estava a esperava de uma data futura onde poderia usufruir da aposentadoria merecida. Mas não observara as mudanças necessárias na empresa, no mundo do trabalho, no contexto, ou no seu papel desempenhado. E um dia ele recebe uma carta de demissão. Tudo vai para o chão em um segundo. Então a “casa cai”, como se diz no ditado popular brasileiro.
Essas desilusões são passíveis de acontecer com qualquer pessoa. Estamos vivos e em um mundo mutável. As coisas mudam e nem sempre tudo sai conforme o planejado, não é mesmo? Você já passou por alguma situação em que se sentira sem chão, ou sem referencial, mesmo que por alguns instantes?
É certo que se não passou, um dia irá passar. É assim a vida. Nossa trajetória humana não foi desenhada apenas para ser vivida em um cenário permanente de dias ensolarados e jardins encantados. Estamos numa experiência espiritual aqui na terra, muito diferente do que muitos pensam sobre uma experiência em que temos controle sobre tudo. Não… não temos controle sobre absolutamente nada. Podemos sonhar, planejar, executar, esperar, mas os resultados na maioria das vezes não dependem única e exclusivamente de nós. Depende de um plano muito maior para todos nós, e que a qualquer hora mudanças de rotas podem acontecer.
E aí? O que fazer quando isto acontece?
Muitas vezes damos muito mais valor às coisas possíveis de se conseguir do ponto de vista externo do que nas coisas relacionadas a construir uma identidade, trabalhar para fortalecer valores de elevação humana, desenvolver uma carreira, criar uma vida de realização e significado, ter uma missão de vida, desenvolver amor próprio, curar as próprias mazelas – autocura (curar nossas dores humanas criadas por nós e pelas circunstâncias externas).
Quando colocamos nossas expectativas de vida e responsabilidade de sermos felizes e realizados em questões externas, estamos correndo um tremendo risco de um dia sermos pegos desprevenidos e nos vermos sem nada daquilo que apostamos nossas fichas.
E então o choque ou desilusão acontece e pode-se ter aquele pensamento horrível – Perdi tudo o que eu tinha!
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Neste artigo de hoje, minha intenção é a de criar uma reflexão sobre a realidade e tudo àquilo que estamos projetando internamente e externamente. A dimensão interna podemos chamar de aquilo que “EU SOU”. A dimensão externa é aquilo que podemos descrever como o que “EU TENHO”.
A notícia boa é que quando investimos bastante tempo em criar uma vida mais focada no que “EU SOU” estamos focando em nossas fortalezas, em reconhecer nosso potencial, estamos investindo em autodesenvolvimento e em nos tornarmos melhores pessoas. E de pouquinho em pouquinho vamos tornando-nos mais fortes e resistentes aos abalos externos.
Quando focamos na dimensão do EU SOU, podemos olhar para o mundo como uma grande escola e aproveitar ao máximo a experiência vivida no hoje. Ao colocar energia na dimensão do eu interior, você poderá observar-se melhor, criar metas de autodesenvolvimento, melhoria de valores, ajudar mais as pessoas que estão ao seu redor, e com isso ajudar na vibração externa emitindo luz, intenção positiva e amor.
O EU SOU não está relacionado a desenvolver um Super Ego. Pelo contrário, está relacionado a trabalhar com a verdade de quem eu sou e onde estou, quem são as pessoas ao meu redor, além do que as coisas materiais de que posso usufruir na vida neste momento.
A consciência do EU SOU, quando bem desenvolvida está relacionada à espiritualidade e ao desenvolvimento da ALMA. A aceitação de que tudo é momentâneo e de que usamos coisas como se fossem empréstimos, vai ficando cada vez mais forte dentro das pessoas que estão dedicadas a desenvolver o EU SOU.
Eu mesma já passei por tantas experiências nesta vida, desde a morte do meu pai aos 11 anos; perda de um grande amor ainda muito jovem; mudanças de cidades e depois de país, deixando para trás coisas que havia construído durante anos; e muitos outros fatos que foram superados e não valeria a pena citar aqui para vocês.
Porém, como eu desde cedo tenho me dedicado a trabalhar no meu autoconhecimento; carreira e não no trabalho em si; um lar interior e não um lar exterior; um amor profundo por mim mesma e uma boa dose de autocompaixão; de certa forma tenho conseguido superar as adversidades que a vida me apresenta, com a certeza de que estou fazendo o meu melhor e de que aconteça o que acontecer, eu estarei em PÉ. Firme, forte e sempre confiante na vida. E assim, vou seguindo de peito aberto para esta vivência humana. Fazendo o meu melhor dentro da consciência espiritual que já possuo, e criando metas de autodesenvolvimento cada vez mais desafiadoras.
Às vezes caio. Porém estou aprendendo a me levantar cada vez mais rápido através da conexão com o meu EU – em práticas de meditação e observação da vida como se fosse um filme de cinema – isto significa olhar os acontecimentos, participar deles, mas não estar apegados aos resultados de cenas e acontecimentos… e sim ao roteiro como um todo.
Uma coisa que tenho constatado é que em momentos difíceis de decisões e perdas, precisamos relembrar quais são os nossos valores centrais e nos segurarmos à eles, não abrindo mão de usá-los mesmo quando o medo for imensamente intenso. No futuro, encontraremos a certeza que fizemos o melhor. Pelo menos tem sido assim comigo e com a maioria das pessoas que levam uma vida regida por valores.
Resolvi falar um pouco de mim por ter consciência de que a luta interna para desenvolver um EU SOU forte e confiante não é fácil. Porém, é algo realmente recompensador, pois sabemos que, aconteça o que acontecer – fato este trazido pela vida – você terá desenvolvido musculaturas muito fortes para escalar os desafios necessários e se sentir muito bem consigo mesmo. Se tiver que recomeçar tudo novamente, do ponto de vista externo, encontrará forças poderosas dentro de você que o impulsionarão para o novo caminho, com força e determinação.
Cuide de você, cuide do seu EU SOU, e você estará caminhando para uma vida muito mais satisfatória e livre. A FELICIDADE quando trilhada pelas certezas da ALMA nunca será ilusão. Será um caminho a ser percorrido com eventos positivos e às vezes negativos. Todos eles com um único propósito: fazer de você um SER mais forte e conectado com a essência das forças DIVINAS.
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Vania Faria Sutherberry é sócia-fundadora da Evolução Humana Consultoria, consultora especialista em Desenvolvimento Humano e Cultura Organizacional, é também coach (especialista em coaching executivo, de carreira, life coaching e coaching sistêmico – desenvolvendo as dimensões físicas, mentais, emocionais e espirituais). Autora do livro “Lentes Coloridas – Uma nova visão sobre destino e missão” e co-autora do livro “A World Book of Values”. Escreve também para o BLOG da Evolução Humana e para seu BLOG pessoal.
Realizou coaching para centenas de executivos , dentre eles CEOS de multinacionais, diretores e gerentes. Desenvolveu projetos de Cultura Organizacional e Desenvolvimento de Lideranças em empresas no Brasil, México, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Estados Unidos, Marrocos e Espanha. Hoje morando na Europa, administra seu tempo entre as atividades executivas da Evolução Humana Consultoria, e suas duas maiores paixões – “realizar coaching e escrever”.
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