— <<Uma crônica de Vania Faria Sutherberry >> —
Com tantas viagens pelo exterior e hoje com residência oficial na Europa, continuo trabalhando e interagindo com o Brasil o dia todo graças aos avanços da tecnologia / internet. Mas posso afirmar que não é a mesma coisa de estar lá, presente, vivendo e sentindo a vida cotidiana com todas as suas nuances.
Acrescido a isto, tenho notado que algo diferente está acontecido comigo em minhas temporadas longe do nosso país. Um tremendo sentimento de patriotismo. É isso mesmo, tem brotado dentro de mim, este sentimento que quando eu estava imersa na energia e contexto do país não conseguia perceber, e muito menos o sentimento de quão apaixonada sou pelo nosso país e por nossa cultura. Nada como olhar de fora as circunstâncias para realmente enxergar “a grandeza” das coisas e o real significado.
Daqui ficou mais fácil compreender esse sentimento de patriotismo e traduzi-lo em palavras. E é isto que vou tentar passar para vocês neste artigo. O que é ser um brasileiro de verdade!
Olhar pessoas circulando com camisetas nas cores da nossa bandeira – amarelo e verde aqui fora nos faz pensar – WOW – talvez eles sejam brasileiros. Provavelmente estão fora do país, assim como eu… e sentindo falta de falar com outros brasileiros. Então dá uma vontade tremenda de ir lá e conversar com os fulanos “aquele português bem brasileiro”, só para sentir o gostinho do nosso país em palavras trocadas em minutos ou mesmo segundos.
Assistir as manifestações populares na TV, ver o povo unido nas ruas pedindo mudanças, gritando por justiça e acabar de vez com a era da roubalheira é emocionante. Aliás, é de arrepiar! Sempre que vejo o povo nas ruas e não estou no Brasil, fico com vontade de passar por um tubo multimensional e me transportar para a Avenida Paulista (ou outra qualquer) – e lá me transformar em mais um pontinho amarelo naquela multidão gigante, soltando a minha voz com toda a potência possível, a fim de amplificar o “ECO” dos anseios coletivos.
Descobri que a melhor comida do mundo é a brasileira. Até hoje eu não entendo porque em terras estrangeiras as pessoas de um modo geral só sabem de duas coisas sobre a nossa cozinha – churrasco e feijoada, além da caipirinha, é claro. Se os gringos soubessem da variedade de comidas deliciosas que temos em nossas mesas – que vão desde a comida da roça, a goiana, a mineira, a baiana, a nordestina, a carioca, a gaúcha, a paulista e de tantas outras regiões desse imenso e maravilhoso Brasil – ficariam realmente deslumbrados.
E os nossos bufês em São Paulo, OHH MY GOD! Que saudade do meu almoço na padaria da esquina do escritório. É tão baratinho, se comparado com um almoço aqui na Inglaterra, e mesmo assim para mim é o melhor almoço que se pode ter em um dia comum de trabalho e pouco tempo para uma refeição. Nunca vi um bufê tão bem montado e criativo aqui do outro lado do mundo, como o meu preferido de São Paulo. Se o pessoal aqui de fora soubesse o que nós brasileiros somos capazes de criar na cozinha, com criatividade e coisas baratas, iriam importar brasileiros o tempo todo para melhorar a qualidade da comida de todos os povos deste planeta.
SAUDADE… também é uma coisa que parece ser sentida só por nós (praticamente uma exclusividade nossa). Nem tradução literal para outros idiomas este sentimento tem. E por falar em saudade… HUM!!! Daria tudo, neste momento, por um pão de queijo e um cafezinho passado no coador de pano. UHHH… cheguei a sentir o cheiro só com a imaginação. Saudade é muito mais do que “I miss you”. Saudade tem vibração, tem paixão, tem sentimento, tem amor verdadeiro por trás do sentimento. Ela é união perfeita de vários sentimentos que ora machucam, ora acolhem como o colo protetor de mãe.
Coisa engraçada é ver gringo se debatendo em frente a uma gôndola de 1 metro por 60cm, com meia dúzia de modelos de Havaianas. Assisti isso outro dia numa cidadezinha aqui na Inglaterra. Eu só ouvia as mulheres gritando – I want! I want! I want!… é engraçado, porque nas mais remotas lembranças da minha infância eu me recordo estar usando um par de Havaianas. A gente lá em Goiânia costumava inovar com nossas Havaianas. Nós soltávamos as tiras das sandálias e invertíamos para ter variedade de cores. Ou seja, uma Havaina podia ser usada em duas cores diferentes. Tempo bom aquele. Que saudade!
E ainda sobre as Havaianas, elas estão no mundo todo e nossa bandeira segue nos pés dos gringos também pelo mundo a fora. Adoro ver gringos de todas as nacionalidades com a nossa bandeira nos pés. E vi também pelo menos uns 5 tipos de falsificações, todas elas com a bandeirinha do Brasil. Parece que hoje em dia “um bom chinelo” precisa ter a bandeira brasileira estampada de alguma forma – nas tiras, no solado ou nos desenhos da superfície.
Outra coisa engraçada que tenho observado é que gringo, de um modo geral, gosta de nós brasileiros. Sempre que me perguntam – Where are you from? – E eu respondo: – Brasil! – escuto de volta – OHHHH – BRAZILLL!!!! – e também de um modo geral as pessoas abrem um largo sorriso após essa exclamação. Isso me faz imaginar que somos bem quistos mundo a fora – na Inglaterra um pouco menos, mas na Itália é gostoso demais dizer que sou brasileira e olhar a reação dos italianos.
Ahhh… não posso me esquecer de falar dos comportamentos brasileiros. Gente, tenho constatado que nós somos muito educados (polite) quando comparados com algumas culturas de fora. Somos sociáveis, otimistas, o povo mais criativo do mundo, em minha opinião. Fazemos tanto com tão pouco. Somos versáteis, adaptáveis, e a tal da competência mais requisita mundialmente nas empresas nos dias de hoje, a “resiliência”, de um modo geral somos os mestres nela. Parecemos camaleões. Ora estamos de verde-amarelo, em segundos conseguimos nos adaptar em um ambiente que exige o jeito “azul-vermelho-branco” de ser. Para bem viver com os outros, somos capazes de nos ajustamos rapidamente. – ÔOHH POVO BOM, esse povo brasileiro!!!
É verdade, hoje temos muitas dificuldades no Brasil. Neste momento as pessoas estão reclamando muito umas para as outras, nas mídias, nos bate papos do cafezinho, por conta da abstinência de soluções de curto prazo. Porém, quando paro para pensar nas coisas boas que temos em nosso país, chego a pensar que realmente “DEUS É BRASILEIRO” e que neste momento ele só está de férias, deixando a gente cuidar por conta própria da melhoria do nosso país. Ele saiu de férias para ver se nos tornamos adultos, ou seja, um povo mais consciente – saindo da infância e adolescência para a fase adulta. Este crescimento poderia acontecer de forma mais suave, mas como bons brasileiros que somos, gostamos de aproveitar as coisas maravilhosas que temos, nossas praias maravilhosas, o futebol, nosso carnaval, o chope com os amigos no bar da esquina e tantas outras coisas que temos para nos divertir com pouco dinheiro no bolso e a criatividade que é inerente a nós brasileiros. E só agora estamos sendo chamados verdadeiramente para a responsabilidade.
Pois é, agora chegou a hora de crescer, encarar a maturidade e fazer transformações. Só um povo consciente, adulto maduro é capaz de escolher gente boa e competente para gerir o país. Ao vermos a roubalheira escancarada que virou o campo da política no país, e tudo que veio a tona e ainda continua vindo, ficamos com vergonha do que está acontecendo. E com isso valores mais elevados como honestidade e ética estão sendo fortalecidos coletivamente em nossa essência. Outros valores como cidadania, respeito, integridade também estão sendo despertados em todos nós, o que é muito bom. Ninguém gosta de ver as coisas horrorosas que estamos vendo todos os dias em nossos noticiários. E com isso a consciência de que devemos mudar e fazer diferente – começando na casa da gente – vai aumentando dia a dia, em cada lar, em cada mente, em cada coração.
Chegou a hora de pararmos de usar o tal do jeitinho brasileiro. Essa nova consciência trás a perspectiva coletiva para fazer o que é certo e que o jeito certo é o melhor caminho para se criar algo melhor para nós e para as futuras gerações. Consciente ou inconscientemente o brasileiro está crescendo, e no futuro, com toda essa “grandeza que temos” e que “somos”, também poderemos ser reconhecidos como um povo forte, que se une e faz mudanças quando necessárias. Um povo que veste a camisa verde amarela para ver o Brasil jogar futebol e outros esportes, porém quando necessário entra em campo para fazer acontecer à vontade coletiva.
AHHH BRASIL, AHHH BRASIL…
Estou visualizando dias ensolarados pela frente. Vamos conseguir fazer essa virada. Vamos com fé, otimismo, realismo quando necessário, reclamar menos, fazer mudanças a partir da nossa casa, nos unir cada vez mais e fazer a bandeira da verdade reverberar do Oiapoque ao Chuí.
AHHH BRASIL, AHHH BRASIL…
Que vontade de voltar para casa e usufruir um final de semana na praia com “areia de verdade” e toda a beleza que só o nosso litoral tem. Mas antes da praia, precisarei usufruir de outro prazer muito simples, este que vem de algo que temos de melhor – que é o nosso cafezinho aromático e que faz o mundo inteiro desejar este sabor que sai da nossa “terra”.
O Brasil é Bom. Ou melhor, o Brasil é Amazing (incrível)!!!!

Vania Faria Sutherberry é escritora e sócia-fundadora da Evolução Humana Consultoria, consultora especialista em Desenvolvimento Humano e Cultura Organizacional, é também coach (especialista em coaching executivo e de carreira) e ensina técnicas de autoconhecimento e autodesenvolvimento com linguagem acessível em seu livro “Lentes Coloridas – Uma nova visão sobre destino e missão”. Ela realizou coaching para dezenas de CEOS de multinacionais e desenvolveu projetos para empresas no México, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Estados Unidos, Marrocos e Espanha. É co-autora do livro “A World Book of Values”.